sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

APOSTILA DO 1º ANO


APOSTILA DO 1º ANO

ÍNDICE                                                                          


1.    CONCEITO DE LITERATURA
2.    FIGURAS DE LINGUAGENS:
3.    GÊNEROS LITERÁRIOS
4.    TROVADORISMO
5.    HUMANISMO
6.    CLASSICISMO OU RENASCIMENTO
7.    LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL E LITERATURA JESUÍTICA
8.    BARROCO
9.    ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO
CONCEITO DE LITERATURA



Antes de se iniciar qualquer trabalho sobre Literatura deve-se ter reposta para a seguinte pergunta: O que é Literatura?
Para essa questão pode-se usar respostas de estudiosos de renome que nos dariam argumentos para uma infindável discussão. Por não ser esse o objetivo desse trabalho, optou-se por definir Literatura, em um sentido estrito, como sendo: Toda forma de expressão, escrita ou oral, baseada na realidade e que se dá por meio da Imaginação. Esse conceito pode ser usado como uma espécie de filtro para distinguir uma obra literária de uma outra não literária. O que passar pelo filtro é obra literária, o que não passar não é. Vamos usar o "filtro" nos dois exemplos abaixo:

Exemplo 1
"O investigador da polícia civil Vagner Ferreira de Souza, de 34 anos, reagiu a um assalto na noite de ontem e matou um dos bandidos. Ele trafegava pela Avenida Almirante Delamara, zona sul, por volta das 21h30, quando foi abordado por dois homens num semáforo. Vagner reagiu e baleou Virgílio Adriano Sobrero, de 19 anos, que foi socorrido no hospital Heliópolis mas não resistiu aos ferimentos. O outro assaltante fugiu"                                                                                           ( Priscila Arone)
Esse texto é uma forma de expressão(escrita ou oral)?
Sim!
É baseado na realidade?
Sim!
Se dá por meio da imaginação?
Não!
Então não é obra literária.

Exemplo 2
"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra".
(Carlos Drummond de Andrade)

Esse texto é uma forma de expressão (escrita ou oral)?
Sim!
É baseado na realidade?
Sim!
Se dá por meio da imaginação?
Sim!
Então, é obra literária.
Apesar da palavra Literatura originar-se etimologicamente da palavra letra e isso sugerir que a sua existência está relacionada a escrita, a Literatura nasceu nos primórdios da humanidade, junto com o Homo Sapiens. Nessa época o homem vivia em tribos nômades, isto é, não tinham um lugar fixo para morar, e sua alimentação, caça e frutos, era retirada da natureza. A dificuldade e a escassez da caça, as variações climáticas e as doenças, que levam a morte, geraram, nesse homem, o temor e o respeito às forças que ele não podia controlar nem entender. Surgiram então a fé nos deuses e os cultos religiosos. Esse homem acreditava que, por meio de um determinado ritual, era possível fazer com que chovesse, a caça voltasse ou que o avanço de uma doença fosse contido. Por isso, essas tribos, mesmo sem dominarem a escrita, possuíam um conjunto muito grande de lendas e canções, transmitidas de forma oral de geração a geração. Quando a escrita foi inventada esse acervo cultural foi registrado e a literatura tornou-se mais estável. No princípio, as paredes de cavernas eram usadas para pintar ou inscrever símbolos que contavam essas histórias. Depois, com a generalização do uso desses símbolos, sugiram novas formas para armazenar essas informações. Eram elas:
Tabuleta - Madeira coberta de barro ou cera, nas quais os signos eram gravados por meio de um processo muito parecido ao da escultura.
Óstracos - Vem do grego concha. Material de escrita, constituído por fragmento de cerâmica ou pedra, no qual anotava-se o que não merecia o suporte nobre do papiro. Era usado para escrever textos curtos como rascunhos, recibos, prescrições médico-mágicas etc. Quando não tinham mais utilidade eram jogados fora. Os óstracos são uma fonte incomparável de conhecimento da vida cotidiana dos egípcios.
Papiro - Material largamente usado pelos egípicios, era feito a partir da Cyperius papirus, grande erva própria das margens alagadiças do rio Nilo. Suas compridas folhas eram cortadas em tiras e enroladas. A tinta, uma mistura feita de plantas, água e goma, era colocada no papiro por meio do Cálamo (pedaço de Bambu com um corte no meio).
Pergaminho - Era feito de pele de cabra, ovelha ou de outro animal, amolecida em cal, raspada e depois polida. A tinta usada era de cobre. Inicialmente, para escrever, usava-se o Cálamo, que foi substituído, posteriormente, por penas de aves.

Texto Literário:
Ênfase na expressão; linguagem conotativa; linguagem mais pessoal, emotiva; recriação da realidade; recurso criativo, palavras no sentido figurado.
Texto não-literário:
Ênfase no conteúdo; linguagem denotativa; linguagem mais impessoal; realidade apenas traduzida; linguagem objetiva, sem duplas interpretações.
 Quanto à disposição gráfica, um texto literário pode ser:
Prosa: em linhas corridas, preenche todo o espaço da folha, parágrafos.
Verso (poesia): a cada linha dá-se o nome de verso e ao conjunto deles, estrofe.
Estilo individual: É o estilo único de determinado escritor, ou seja, sua visão única e modo próprio de criação literária.
Estilo de Época: características comuns em obras de autores diferentes, quanto ao modo de utilizar a língua, explorar temas e refletir uma visão de mundo, mas contemporâneos.
Escolas literárias: (ou estilos de época)
                                                                                                    
QUADRO SINÓTICO DOS PERÍODOS LITERÁRIOS (ESTILOS DE ÉPOCA)

1. PORTUGAL
PeríodoÉpoca
Trovadorismo1189 –1434
Humanismo1434 –1527
Classicismo1527 –1580
Barroco1580 –1756
Arcadismo1756 – 1825
Romantismo1825 –1865
Realismo/Naturalismo/Parnasianismo1865 –1890
Simbolismo1890 –1915
Modernismo1915 aos dias de hoje

2. BRASIL
PeríodoÉpoca
Literatura Informativa sobre o Brasil e Literatura Jesuítica1500 - 1601
Barroco1601 – 1768
Arcadismo1768 – 1836
Romantismo1836 – 1881
Realismo/Naturalismo/Parnasianismo1881 – 1893
Simbolismo1893 – 1902
Pré-Modernismo1902 –1922
Modernismo
1ª ger. Modernista 
2ª ger. Modernista 
3ª ger. Modernista

(1922 a 1930)
(1930 a 1945)
 (1945 a 1960)
Obs.: A literatura atual, de mais ou menos 1960 em diante, é chamada de pós-modernista, seguindo a tendência das Artes.Pós-modernismo


Exercício: Copiar ou recortar e colar no caderno um exemplo de Texto literário e um de Texto não-literário.


Aula Programada:               Etapas
Apresentar o conceito:
Conotativo: A utilização da palavra em seu sentido figurado (imaginação).
Ex: João morre de amor por Maria.
Denotativo: A utilização da palavra em seu sentido real.
Ex: João morre atropelado, quando ia ao encontro de Maria.

Execução do seguinte exercício:
1)    Crie frases com sentido denotativo e conotativo, a partir das seguintes palavras:
a)    Fogo              
D:_________________________________________       
C:________________________________________
b)    Gelo                          
D:________________________________________
C:________________________________________
c)    alto
D:________________________________________
C:________________________________________
d)    Sal
D:________________________________________
C:________________________________________

2)  O item em que o termo sublinhado está empregado no sentido denotativo é:
a) Além dos ganhos econômicos, a nova realidade rendeu frutos políticos.
b) ...com percentuais capazes de causar inveja ao presidente.
c) Os genéricos estão abrindo as portas do mercado...
d) ...a indústria disparou gordos investimentos.
e) Colheu uma revelação surpreendente:...

3) Assinale a alternativa cujo termo grifado NÃO é linguagem conotativa:
a) “... mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço ”
b) “Acresce que chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste”
c) “A natureza parece estar chorando a perda irreparável
d) “... no discurso que proferiu à beira da minha cova.”

4) Assinale o segmento em que NÃO foram usadas palavras em sentido figurado:
a) Lendo o futuro no passado dos políticos (...)
b) As fontes é que iam beber em seus ouvidos.
c) Eram 75 linhas que jorravam na máquina de escrever com regularidade mecânica.
d) Antes do meio-dia, a coluna estava pronta.
e) (...) capaz de cortar com a elegância de um golpe de florete.

FIGURAS DE LINGUAGENS

São quando se utilizam das palavras ou texto para dar mais força, colorido, intensidade e beleza ao que se quer comunicar. Utiliza-se de maneira não convencional alinguagem, explorando-se os aspectos conotativos das palavras novas maneiras de construir as frases, estão sendo criadas as figuras de linguagemtambém chamadas de figuras de estilo.

 Figuras de Palavras:

1) Comparaçãoé uma comparação que tem o termo comparativo (como, tal, qual)
Ex: Maria é bela como uma flor

2)  Metáforaé uma comparação mental ou característica comum entre dois seres ou fatos.
 Ex: O pavão é um arco-íris de plumas
 Ex: Maria é uma flor de menina

3) MetonímiaConsiste em usar uma palavra por outra, com a qual se acha relacionada.
Efeito pela causaOs aviões semearam a morte
Autor pela obraLi Machado de Assis
Continente pelo conteúdoTomou uma taça de vinho
Instrumento pela pessoa: Ele é um bom de garfo
Lugar por seus habitantesA América combateu
Parte pelo todo: Não tinha teto para morar

4) Perífrase: Como se fosse um apelido
Cidade Morena (Campo Grande)
Cidade Luz (Paris)
Cidade Branca (Corumbá)
Cisne Negro (Cruz e Souza)
Poeta dos escravos (Castro Alves)

5) Sinestesia: é a transferência da percepção da esfera de um sentido para a do outro (misturas dos sentidos).
Ex: Sua voz doce e aveludada era uma carícia
Ex: Olhar gelado
visão + tato = mistura

Figuras de Pensamento

Antítese: Consiste na aproximação de palavras ou expressões de sentido oposto.
Ex: Como era possível beleza e horror, vida e morte no mesmo quadro?

Eufemismo: consiste em suavizar a expressão de uma ideia ruim por mais suave.
Ex: Ele foi desta para melhor

Ironia: dizemos o contrário do que pensamos, com intenção sarcástica.
Ex: Fizeste um excelente serviço!

Hipérbole: é uma afirmação exagerada
Ex: Estou há um século à sua espera
Ex: Chorou rio de lágrimas        

Personificação ou Prosopopeia: figura pela qual fazemos os seres inanimados ou irracionais agirem como humanos.
Ex: O luar acaricia a fonte
Ex: O rio entrou em agonia

Figuras Sonoras

Onomatopeiapalavras que imitam sons ou voz natural dos seres
Ex: Pedrinho deu rédeas e, lept! lept! Arrancou estrada afora!

Aliteração: repetição intencional de consoantes
Ex: Vozes veladas veludosas vozes de violão.


Exercícios:
1)     Numere

(   1  ) metáfora
(   2  ) metonímia
(   3  ) perífrase
(   4 ) comparação.
(      ) O poema é uma pedra no abismo
(      ) Há muita luta neste vale de lágrimas
(      ) joguei duas pratas no chapéu do mendigo
(      ) Ele é astucioso como uma raposa

2)     Transforme a comparação em metáfora:
a)     Os morcegos eram como loucos chicotes negros nas trevas
_________________________________________________________________

3)     Exemplifique as metonímias

Vou sentar e descansar os ossos
(                                          )
São Paulo parou para esperar o campeão
(                                                  )
Eu li Euclides da Cunha
(                                         )          


4)     Encontre e grife duas perífrases, depois explique:
a)     O ouro negro jorrou em vários pontos do Continente de Colombo
_________________________________________________________________

b)     Bípede implume, não suje o precioso líquido que te mata a sede.
_________________________________________________________________

5)     Crie comparações a partir de pares de palavras abaixo:
a)     Palavras – fel
_________________________________________________________________

b)                     Beijo – fogo
___________________________________________________________________

c)                     Olhar – gelo
___________________________________________________________________

d)                     casarão – noite
___________________________________________________________________



6)                     Construa frases com metáforas a partir das relações de semelhanças dadas: Ex: Cuidado! Esse vendedor de carros é esperto e ladino
Cuidado! Esse vendedor de carros é uma raposa!


a)                     Seu mau-humor é repentino, mas passageiro
________________________________________
b)                     Nosso relacionamento é tranquilo e prazeroso
________________________________________
c)                     Meu novo apartamento é pequeno e apertado
________________________________________



7)                     Coloque D para denotativo e C para conotativo
(____) Estava tudo em  de guerra.
(____) Ela estava com os pés inchados.
(____) É órfão de afeto.
(____) Muito cedo ele ficou órfão de pai.
(____) Ela disse uma montanha de absurdos.
(____) Este cavalo venceu a corrida.
(____) Ela disse uma montanha de absurdos.


GÊNEROS LITERÁRIOS
Introdução
A LITERATURA É A ARTE QUE SE MANIFESTA PELA PALAVRA, SEJA ELA FALADA OU ESCRITA. Quanto à forma, o texto pode apresentar-se em prosa ou verso. Quanto ao conteúdo, estrutura, e segundo os clássicos, conforme a "maneira de imitação", podemos enquadrar as obras literárias em três gêneros:
Gênero Lírico
· Lírico: quando um "eu" nos passa uma emoção, um estado; centra-se no mundo interior do Poeta apresentando forte carga subjetiva. A subjetividade surge, assim, como característica marcante do lírico. O Poeta posiciona-se em face dos "mistérios da vida". A lírica já foi definida como a expressão da "primeira pessoa do singular do tempo presente".(*)
Seu nome vem de lira, instrumento musical que acompanhava os cantos dos gregos. Por muito tempo, até o final da Idade Média, as poesias eram cantadas; separando-se o texto do acompanhamento musical, a poesia passou a apresentar uma estrutura mais rica. A partir daí, a métrica (a medida de um verso, definida pelo número de sílabas poéticas), o ritmo das palavras, a divisão em estrofes, a rima, a combinação das palavras foram elementos cultivados com mais intensidade pelos poetas.
Mas, cuidado! O que foi dito acima não significa que poesia, para ser poesia, precise, necessariamente, apresentar rima, métrica, estrofe. A poesia do Modernismo, por exemplo, desprezou esses conceitos; é uma poesia que se caracteriza pelo verso livre (abandono da métrica), por estrofes irregulares e pelo verso branco, ou seja, o verso sem rima. O que, também, não impede que "subitamente na esquina do poema, duas rimas se encontrem, como duas irmãs desconhecidas..."

· Épico / Narrativo: quando temos uma narrativa em forma de verso, de fundo histórico; são os feitos heroicos e os grandes ideais de um povo o temos o épico, através das epopeias. O narrador mantém um distanciamento em relação aos acontecimentos (esse distanciamento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: (os fatos narrados situam-se no passado). Temos um Poeta-observador voltado, portanto, para o mundo exterior, tornando a narrativa objetiva. A objetividade é característica marcante do gênero épico. A épica já foi definida como a poesia da "terceira pessoa do tempo passado". 
Gênero Épico
A palavra "epopeia" vem do grego épos, ‘verso’+ poieô, ‘faço’ e se refere à narrativa em forma de versos, de um fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva, impessoal, cuja característica maior é a presença de um narrador falando do passado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, normalmente, um episódio grandioso e heroico da história de um povo.
Dentre as principais epopeias (ou poemas épicos), destacamos:
·         Ilíada e Odisséia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra entre Grécia e Tróia).
·         Eneida (Virgílio, Roma; narrativa dos feitos romanos)
·         Os Lusíadas (Camões, Portugal)
Na literatura brasileira, as principais epopéias foram escritas no século XVIII:
·         Caramuru (Santa Rita Durão)
·         O Uraguai (Basílio da Gama)

Gênero Narrativo
O Gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o romance, a novela e o conto. (*)
Em qualquer das três modalidades acima, temos representações da vida comum, de um mundo mais individualizado e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses.
As narrativas em prosa, que conheceram um notável desenvolvimento desde o final do século XVIII, são também comumente chamadas de narrativas de ficção.
· Romance: narração de um fato imaginário, mas verossímil, que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem. Comparado à novela, o romance apresenta um corte mais amplo da vida, com personagens e situações mais densas e complexas, com passagem mais lenta do tempo. Dependendo da importância dada ao personagem ou à ação ou, ainda, ao espaço, podemos ter romance de costumes, romance psicológico, romance policial, romance regionalista, romance de cavalaria, romance histórico, etc.(*)
· Novela: na literatura em língua portuguesa, a principal distinção entre novela e romance é quantitativa: vale a extensão ou o número de páginas. Entretanto, podemos perceber características qualitativas: na novela, temos a valorização de um evento, um corte mais limitado da vida, a passagem do tempo é mais rápida, e o que é mais importante, na novela o narrador assume uma maior importância como contador de um fato passado.(*)
· Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em um episódio da vida. O crítico Alfredo Bosi, em seu livro O conto brasileiro contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do conto "já desnorteou mais de um teórico da literatura ansioso por encaixar a forma conto no interior de um quadro fixo de gêneros. Na verdade, se comparada à novela e ao romance, a narrativa curta condensa e potencia no seu espaço todas as possibilidades da ficção".(*)
· Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como objetivo transmitir uma lição moral. Normalmente a fábula trabalha com animais como personagens. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo. (*)
A fábula é das mais antigas narrativas, coincidindo seu aparecimento, segundo alguns estudiosos, com o da própria linguagem. No mundo ocidental, o primeiro grande nome da fábula foi Esopo, um escravo grego que teria vivido no século VI a.C. Modernamente, muitas das fábulas de Esopo foram retomadas por La Fontaine, poeta francês que viveu de 1621 a 1695. O grande mérito de La Fontaine reside no apurado trabalho realizado com a linguagem, ao recriar os temas tradicionais da fábula. No Brasil, Monteiro Lobato realizou tarefa semelhante, acrescentando, às fábulas tradicionais, curiosos e certeiros comentários dos personagens que viviam no Sítio do Picapau Amarelo.

Gênero Dramático
· Dramático: quando os "atores, num espaço especial, apresentam, por meio de palavras e gestos, um acontecimento". Retrata, fundamentalmente, os conflitos humanos.(*) Ex: Peças de teatro e roteiro de filmes.
Drama, em grego, significa "ação". Ao gênero dramático pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos para serem representados. Isso significa que entre autor e público desempenha papel fundamental o elenco (incluindo diretor, cenógrafo e atores) que representará o texto.
O gênero dramático compreende as seguintes modalidades:
· Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era "uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror".(*)
· Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. Sua origem grega está ligada às festas populares, celebrando a fecundidade da natureza.(*)
· Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário.(*)
· Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que crítica a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores (Rindo, castigam-se os costumes). (*)
                    
Estudo dos Períodos Literários:

TROVADORISMO

Representou o início da atividade literária da língua portuguesa. A Ribeirinha, de Paio Soares Taveirós, foi a primeira composição literária portuguesa. Essa cantiga, originalmente em galego-português - visto que ainda não havia uma unidade lingüística entre Portugal e a Galiza, foi endereçada a Maria Pais Ribeiro, uma mulher muito cobiçada na corte portuguesa e que foi amante de D. Sanho I, o segundo rei de Portugal. O fim do Trovadorismo é marcado com a nomeação de Fernão Lopes para cronista-mor da torre do Tombo em 1418. (Vale lembrar que as datas que marcam os períodos literários são aproximadas, afinal ninguém vai dormir trovador em um dia e acorda humanista no outro.)
Na literatura, o Trovadorismo foi a primeira escola literária portuguesa. Esse movimento compreende o período que vai, aproximadamente, do século XII ao século XIV. Nessa época floresciam as cantigas, poemas musicados, ou melhor, verdadeiras letras de música Nessa época em que há o predomínio da oralidade, a poesia é marcada pelas cantigas trovadorescas, que possuem uma estreita relação com a música, o canto e a dança. Em virtude disso, fazia-se necessário o acompanhamento de instrumentos musicais, tais como a harpa, a flauta, a guitarra, o alaúde, a viola etc. É natural que esses poemas, por serem obras transmitidas oralmente, acabassem desaparecendo. Para evitar que isso acontecesse, inicialmente, foram criados pequenos cadernos de apontamento, nos quais essas obras eram transcritas. Esses cadernos não foram suficientes para armazenar todas as obras conhecidas, então, alguns mecenas, em especial o rei, resolveram agrupar essas obras em coletâneas de canções. Dessa forma, as cantigas que antes eram apenas apresentadas oralmente e estavam guardadas apenas na memória do trovador foram compiladas e viraram os Cancioneiros. Mesmo com a preocupação de preservar essas obras, muitos cancioneiros pereceram ao longo do tempo. Os três Cancioneiros mais importantes, em número e qualidade, que nos restaram são:
Cancioneiro da Ajuda - datado do século XIII, composto por 310 cantigas, sendo 304 de amor;
Cancioneiro da Biblioteca nacional de Lisboa ou Cancioneiro Colocci Brancutti (esse último nome é em homenagem a seus dois últimos possuídores italianos) - Contém 1647 cantigas de todos os tipos e engloba Trovadores dos reinados de Afonso III e D. Diniz;
Cancioneiro do Vaticano (Esse nome lhe é atribuído por ter sido descoberto na Biblioteca do Vaticano, em Roma) - Incluí 1205 cantigas de escárnio, de maldizer, de amor e de amigo.
As canções dessa época chamadas, de cantigas classificavam-se em: cantigas de amor, de amigo; de escárnio e de maldizer.

Características principais:
  • Lirismo amoroso.
  • Predomina a arte poética (trovadores).
  • Presença do ambiente campestre.
  • Referência a aspectos da vida na Corte, onde se encontravam os nobres. Presença constante do aspecto religioso.
  • Teocentrismo (devido ao predomínio da Igreja na época, Deus era considerado o centro do universo e era disseminada entre o povo a ideia de que a sociedade estava dividida entre dominados e dominadores porque "era a vontade de Deus". Os dominados somente seria possuidores de uma grande riqueza no céu, após a morte, e, nesta vida, se alguém desejasse mudar de classe social era contrariar a vontade de Deus).
  • Lamentos de amores impossíveis ou já passados.
  • Refrãos (repetição de determinados versos).
  • Atos heroicos dos cavaleiros (nas novelas de cavalaria).

Esse período inicial da literatura portuguesa pode ser dividido em dois momentos principais: o da poesia e o da prosa. O poema recebia o nome de "cantiga" (ou ainda de "canção" e "cantos") por associar-se à música: era cantado acompanhado de instrumento musical. Havia o trovador (nobre que fazia trovas por imperativo da moda), o segrel, o menestrel (profissional) e o jogral (espécie de bobo da corte, que apenas executava ou interpretava as composições alheias).

A Poesia Trovadoresca, escrita em galaico-português, apresenta duas espécies:

- lírico-amorosa, expressa em dois moldes, a cantiga de amor e a cantiga de amigo;

Cantigas de Amor

Contêm a confissão amorosa do Poeta (trovador) a uma dama de condição social geralmente superior à dele ("domina") ou casada; portanto, inacessível. O eu-lírico é masculino. Originaram-se da Provença, região do sul da França, veiculando a convenção do amor cortês - o homem coloca-se como vassalo da mulher; esconde o nome dela por detrás das expressões "mia dona", "mia senhor", e suplica por seus "favores"(retribuição do amor do "coitado").
Características:
·         Eu-lírico masculino acometido de coita, ou seja, sofrimento amoroso;
·         Ambientação palaciana (corte);
·         Mulher idealizada;
·          Vassalagem amorosa. O eu-lírico assume uma atitude submissa, de vassalo em relação à amada, ele é servo da mulher amada; O nome da mulher amada está sempre oculto;
·          Composição masculina.

Cantiga de amigo

Nas catingas de amigo sempre há uma mulher que chora por um cavalheiro distante e recorre à mãe, às amigas e à natureza para que procurem o amante por quem se sente abandonada. Além dessas características, essas cantigas são geralmente construídas a partir de repetições sucessivas que remetem à origem oral dos textos. Por isso são conhecidas como cantigas paralelísticas.
Características:

·         Contêm a confissão amorosa da mulher, inspiram-se na vida rural e popular. A moça dirige-se à mãe, às amigas, aos pássaros, às fontes, às flores etc, perguntando pelo homem amado.
·         Nelas sempre está presente a palavra amigo (namorado, amigo ou amante).
·         Mostram o outro lado da relação amorosa: o sofrimento (coita amorosa) da mulher (coitada), abandonada pelo "amigo".
·         O eu-lírico é feminino, embora seja o trovador quem faz (e canta) a cantiga.

Cantigas de Amor
Cantigas de Amigo
Origem Provençal
Origem popular ou peninsular
Autoria masculina; 
Autoria masculina (nesse período as mulheres não escreviam)
Sentimento masculino (eu-lírico masculino)
Sentimento feminino (eu-lírico feminino)
Ambientação palaciana (corte)
Ambientação popular (natureza, rio, campo, lago, mar, festas religiosas)
Amor cortês em que há vassalagem; Amor que não se realiza (impossível)
Amor real (saudades de quem ela teve) ; Amor possível
Mulher idealizada, inacessível
Sentimentos de saudade do "amigo" (amante)
Coita (sofrimento de amor)
Temática variada
Mulher socialmente superior e casada
Composições com diálogo ( amigas, natureza)

- satírica, expressa na cantiga de escárnio e na cantiga de maldizer.

Cantigas de maldizer - sátiras diretas por meio das quais falava-se mal das pessoas conhecidas, muitas vezes usava-se vocabulário de baixo calão (palavrões).
Cantigas de escárnio - por meio delas o trovador criticava, de forma irônica e velada, pessoas sem citar nomes. Nesta modalidade de sátira é indireta, a pessoa criticada é facilmente reconhecida.

cantigas de escárnio
  cantigas de maldizer
Sátira indireta (não cita nomes, mas todos sabem quem é)
Sátira direta (cita nomes)
Sutis e bem-humoradas
Grosseiras com a intenção de ofender



Leia abaixo exemplos de cantigas e responda:
1)
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
e ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amado
por que hei gran cuidado!
e ai Deus, se verrá cedo!
(Martim Codax, ibidem, p.441)
***verrá = virá; levado = encapelado
Cantiga de ______________________________
2)
Cantiga sua, partindo-se
Senhora partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
de morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes
tam fora de esperar bem, que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
(Joam Roiz de Castelo Branco)
Cantiga de ______________________________
3)
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
e ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que suspiro!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amado,
o por que hei gran cuidado!
e ai Deus, se verrá cedo!

Cantiga de ______________________________
4)
- Ai, flores, ai flores do verde pino,
sa sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?                              
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que m’ a jurado?
Ai, Deus, e u é?
- Vós perguntades por voss’amigo?
E eu Ben vos digo que é san’e vivo.
Ai, Deus, e u é?
Vós perguntades por voss’amado?
E eu Ben vos digo que é viv’e sano.
Ai, Deus, e u é?
E eu Ben vos digo que é san’e vivo,
e será vosc’ant’o prazo saído.
Ai, Deus, e u é?
E eu Ben vos digo que é viv’e sano,
e será vosc’ant’o prazo passado.
Ai, Deus, e u é?

Cantiga de ______________________________


5)
Bailemos nós já todas três, ai amigas,
so aquestas avelaneiras floridas,
e quem for velida como nós velidas,
se amigo amar,
so aquestas avelaneiras floridas
verrá bailar.        

Cantiga de ______________________________

[6]

"Ai dona fea! Fostes-vos queixar
porque vos nunca louv' en meu trobar (1):
mais ora (2) quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via (3);
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia (4)!
Ai dona fea! Se Deus mi perdon!
e pois havedes tan gran coraçon
que vos eu loe en esta razon,
vos quero já loar toda via;
e vedes qual sera'a loaçon (5):
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bom cantar farei
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!"
Glossário
1 - trovar
2 - mas agora
3 - louvarei sempre,
inteiramente
4 - louca
5 – louvor

Cantiga de ______________________________

7)
Senhora minha, desde que vos vi,
lutei para ocultar esta paixão
que me tomou inteiro o coração
mas não o posso mais e decidi
que saibam todos o meu grande amor,
a tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi.
Quando souberem que por vós sofri
tamanha pena, pesa-me, senhora
que diga alguém, vendo-me triste agora
que por vossa crueza padeci,
e que sempre vos quis mais que ninguém,
e nunca me quisestes fazer bem,
nem ao menos saber o que eu sofri.
Cantiga de ______________________________




8)
"Meu senhor arcebispo, and'eu escomungado
porque fiz lealdade; enganou-me o pecado!
Soltade-m, ai senhor, e jurarei, mandado,
que seja traëdor.
Se traïçon fezesse, nunca vo-la diria;
mais pois fiz lealdade, vel por Santa Maria,
Soltade-m, ai senhor, e jurarei, mandado,
que seja traëdor.
Per mia malaventura tive hun en Sousa
e dei-o a seu don' e tenho que fiz gran cousa.
Soltade-m, ai senhor, e jurarei, mandado,
que seja traëdor.
Por meus negros pecados tive hun castelo forte
e dei-o a seu don', e hei mêdo da morte.
Soltade-m, ai senhor, e jurarei, mandado,
que seja traëdor."

Cantiga de ______________________________

9)
(J. J. Nunes)
Levad’,( levantai) amigo, que dormides as manhãas frias;
Todalas aves do mundo d’amor dizian:
Leda m’and’(contente ) eu!
Levad’,( levantai) amigo, que dormides as manhãas frias;
Todalas aves do mundo d’amor cantavan:
Leda m’and’(contente ) eu!
Todalas aves do mundo d’amor dizian:
do meu amor e dos voss’i enmentavam (traziam na mente):
Leda m’and’(contente ) eu!
Todalas aves do mundo d’amor cantavan:
do meu amor e dos voss’i enmentavam (traziam na mente):
Leda m’and’(contente ) eu!
do meu amor e do voss’en ment’avian;
vós lhi tolhestes os ramos en que siian (pousavam):
Do meu amor e do voss’i enmentavam;
vós lhi tolhestes os ramos en que siian (pousavam):
Leda m’and’(contente ) eu!
vós lhi tolhestes os ramos en que siian (pousavam):
E lhe secastes as fontes en que bevian (bebiam):
Leda m’and’(contente ) eu!
vós lhi tolhestes os ramos en que siian (pousavam):
E lhi secastes as fontes u se banhavan:
Leda m’and’(contente ) eu!
Interpretação:
  1. O eu-lírico dessa cantiga é masculino ou feminino? Justifique.
  2. Que papel a natureza desempenha no texto?
  3. Que observações você faria com relação à linguagem da cantiga?
  4. Que refrão encontramos no texto? Como você definiria refrão?
  5. Que tipo de sentimento o eu-lírico expressa nessa cantiga?

Prosa Medieval

- livros de linhagens - contendo a árvore genealógica dos nobres, a fim de evitar casamentos entre parentes próximos;
- hagiografias - biografia de santos;
- cronicões - registros, em ordem rigorosamente cronológica dos acontecimentos históricos, quase todos redigidos em Latim;
- novelas de cavalaria - que eram narrativas derivadas das antigas canções de gesta (poemas relatando assuntos épicos. As novelas de cavalaria sustentam a prosa de ficção da época medieval. Elas têm, como assunto principal, os feitos dos cavaleiros e agrupam-se em três ciclos, dependendo do assunto que tratam:
Ciclo Carolíngeo ou francês - Focalizam as aventuras de Carlos Magno e seus guerreiros; Ciclo grego-romano ou clássico - envolvem os heróis da mitologia antiga; Ciclo arturiano ou bretão - tratam das façanhas do Artur e os cavaleiros da Távola Redonda. Desses ciclos o mais importante para a Literatura Portuguesa é o Arturiano, porque contém as primeiras novelas traduzidas para a língua portuguesa de maneira correta.  As novelas que mais se destacam desse período foram: "José de Arimatéia", "Histórias de Merlim" e a "Demanda do Santo Graal". Essa última é uma das mais importantes novelas de cavalaria conhecidas. Sua história gira ao redor das aventuras dos cavaleiros da Távola Redonda, presidida pelo rei Artur. Os cavaleiros saem em demanda (procura) do Santo Vaso, isto é, o cálice em que José de Arimatéia teria recolhido o sangue que cristo derramou na cruz. Era véspera de Pentecostes quando, em Cammalot, reunidos os cavaleiros para a ceia, surge um misterioso vaso esparzindo luz, que a todos nutre de um místico alimento, e depois desaparece. O rei e os cavaleiros resolvem sair a busca do vaso para poderem usufruir de sua celestial presença. A lenda, que remonta às origens célticas, foi inicialmente pagã depois, é cristianizada, passando os seus símbolos (o Vaso, a Espada e outros) a ter valor místico. E, em lugar de aventuras muitas vezes carregadas de realismo, o exercício espiritual de devoção passa a dominar as forças físicas no sentido de alcançar a Eucaristia. Com isso, a novela de cavalaria torna-se mística e simbólica e os cavaleiros tornam-se, em sua maioria, homens voltados para o símbolo da comunhão. O cavaleiro escolhido, cujo nome bíblico se liga a Galaaz ("puro dos puros" o próprio Messias), simboliza um novo Cristo, que atinge o fim almejado somente depois de uma penosa Via-crúcis, cheia de aventuras, que põem à prova todas as suas virtudes. A demanda Santo Graal corresponde à reação da igreja Católica contra o desvirtuamento da cavalaria durante as cruzadas. Os cavaleiros, andantes feudais, transformavam-se, em sua maioria, em indivíduos desocupados, verdadeiros bandoleiros. A Igreja, preocupada com isso, resolve formar uma Cavalaria Cristã. Essas narrativas revelam aspectos religiosos diferentes dos mostrados nas cantigas de amor. Elas são uma espécie de inversão de valores, pois consideram o amor como um ato pecaminoso. O auge das novelas de cavalaria ocorreu em meados do século XIII com as obras "Lancelot" e "Tristão", ambas narram histórias de cavaleiros que reúnem múltiplas qualidades físicas e morais e vagam por um mundo povoado por personagens fantásticos e geografias exóticas.

HUMANISMO

O Humanismo foi um período entre a Idade Média e o Renascimento (início da Idade Moderna),  transição entre o teocentrismo (Deus como centro do universo) e o antropocentrismo (homem como centro do universo). É a época dos grandes descobrimentos marítimos e do nascimento da burguesia como classe social.
A própria Igreja, abalada em seus alicerces e minada por crises internas, vai, aos poucos, perdendo seu poder: a religiosidade e o teocentrismo medievais cedem lugar a um homem que se descobre senhor de seu destino e dominador da natureza. O antropocentrismo apresenta-se como uma nova visão de mundo e culmina com o Renascimento da cultura clássica.
O período medieval é caracterizado pela extrema severidade que separava as classes sociais. No entanto, essa rigidez começa a ser abalada principalmente com o surgimento da Burguesia, uma nova classe social voltada para o comércio, para à pequena indústria que valorizava a vida material. Essas novas atividades econômicas podem ser consideradas como o início da decadência do Feudalismo, pois favoreceram o crescimento e até mesmo o surgimento de novas cidades (chamadas de Burgos), que se apresentavam como uma alternativa para o homem que estava cansado do regime de servidão que lhe era imposto no campo.
Toda essa transformação fez com que o Mercantilismo ocupasse o espaço cedido pelo Feudalismo e a Burguesia, líder desse processo, se tornasse uma das classes sociais mais importantes. Assim, o poder material tornou-se mais importante do que os títulos de nobreza. Além disso, novas leis fizeram-se necessárias, pois o comportamento do homem da cidade era muito diferente ao do camponês. Com isso, pode-se dizer que o processo de transição do Feudalismo para o Capitalismo estava completo. Outro fato que contribuiu para as mudanças ocorridas durante a transição do Trovadorismo para o Humanismo foi a generalização do uso do papel em toda a Europa o que favoreceu, juntamente com a imprensa, a difusão dos manuscritos. Isso tudo acabou por determinar a supremacia da escrita sobre a oralidade, que anteriormente fora muito difundida.
Didaticamente, convencionou-se determinar como marco inicial do Humanismo a nomeação de Fernão Lopes como guarda-mor da Torre do Tombo, em 1418. Seu término ocorre em 1527 quando Sá de Miranda retorna da Itália e começa a introduzir em Portugal a nova estética Clássica.
O homem, desse período, começa a romper com o fechado sistema feudal e com a visão Teocêntrica imposta pela Igreja. Assim, ele começa também a se valorizar, sem contudo abandonar por completo o temor a Deus e a submissão, visto que essa é uma fase predominantemente de transição.

Características principais:
    • Surgimento do teatro, com Gil Vicente.
    • A poesia separa-se da música, embora coexistam as cantigas.
    • Maior interesse pelo ser humano e questionamento de suas atitudes.
    • Presença de um espírito mais crítico.
    • Importância à historiografia (arte de escrever a história).
    • Valorização dos escritos que encerrassem ensinamentos (prosa doutrinária)

Poesia Palaciana (gênero lírico)
Os trovadores medievais e as cantigas trovadorescas praticamente desaparecem de meados do século XIV até por volta de 1450. Tal fato relaciona-se a uma nova visão de mundo (burguesa), voltada para a vida prática, as navegações e a expansão marítima. Características:
·         distanciamento da dança e do acompanhamento musical; consequente necessidade de aprimoramento técnico: o poeta deve conseguir musicalidade com recursos de linguagem artística: uso consciente de rimas, métricas e ritmos; ambiguidades e jogos de palavras; aliterações e figuras de linguagem, entre outros;
·         impressão de poemas e sua divulgação, popularizando-os para leitura e não mais para serem ouvidos;
·         persistência do tema amor-sofrimento, originário da lírica trovadoresca: de um lado o amor platônico, de outro o amor sensual, reflexo do Humanismo e do Renascimento;
·         a mulher, extremamente idealizada na lírica medieval, transforma-se pouco a pouco num ser mais humano, mais concreto;
·         são frequentes as poesias religiosas, com alusões a Virgem Maria; acrescentam-se textos com preocupações morais e éticas (Bem);

Exemplo de poesia:
Cantiga sua partindo-se
" Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saüdosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d'esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém."
(João Roiz de Castelo Branco)

HISTORIOGRAFIA:
Fernão Lopes (1380? 1460?)
Igual a maioria dos autores dessa época, pouco se sabe sobre a vida de Fernão Lopes. Acredita-se que ele tenha nascido por volta de 1380. Considerado o criador da historiografia em Portugal foi nomeado, em 1418, o guardador-mor da Torre do Tombo, onde são guardados os documentos históricos do país. Em 1434, foi promovido a cronista-mor, passando a escrever a história dos reis de Portugal. Apesar de ter que centralizar a sua crônica na família real, teve o mérito de investigar as relações sociais que movimentavam o país, além de captar o sentimento coletivo do povo português. Devido ao posto que ocupava na Torre do Tombo, pode fundamentar suas idéias com documentos escritos, o que se constitui numa das bases da historiografia moderna.
As principais características da obra de Fernão Lopes são: as pesquisas históricas, a ironia e a crítica à sociedade portuguesa. Além disso, com um estilo próprio e elegante, Fernão Lopes evitou a criação de heróis. Isso significa que analisou com objetividade e justiça os documentos históricos e foi cauteloso em determinar a verdade histórica ao confrontar textos e versões sobre um mesmo assunto.
As principais obras escritas por Fernão Lopes são:
 Crônica del-Rei D. Pedro - Nela, além de traçar o perfil psicológico e Dom Pedro I, Fernão Lopes narra os episódios sobre Inês de Castro, que ficaram famosíssimos ao longo da história;
Crônica del-Rei D. Fernando - Essa crônica é muito importante, pois reconstitui o período que vai desde o início do Reinado de D. Fernando até o começo da Revolução de Avis. Nela, Fernão Lopes ainda revela muitas características psicológicas do rei, como por exemplo sua alegria e seu "achego às mulheres";
Crônica del-Rei de D. João I - Essa crônica divide-se em duas partes distintas: a primeira inicia-se por volta de 1383, com a morte de D. Fernando, e estende-se até 1385, quando D. João é aclamado Rei de Portugal. A Segunda parte relata o governo de D. João I e estende-se até a 1411, quando esse é assassinado.

TEATRO:
Gil Vicente(1465? 1537?)
Gil Vicente foi ourives oficial da corte, como afirmam seus biógrafos, até por volta do ano de 1502, quando encenou a sua primeira peça o Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro, em homenagem ao nascimento do filho de D. Manuel com D. Maria. A peça fez tanto sucesso que o levou a elaborar outras, igualmente cheias de êxito.
Gil Vicente foi sem dúvida um homem que viveu um conflito interno, por conta da transição da idade Média para a Idade Moderna. Isso quer dizer que foi um homem ligado ao medievalismo e ao mesmo tempo ao humanismo, ou seja, um homem que pensa em Deus mais exalta o homem livre. O Autor critica em sua obra, de forma impiedosa, toda a sociedade de seu tempo, desde os membros das mais altas classes sociais até os das mais baixas.
Contudo as personagens por ele criadas não se sobressaem como indivíduos. São sobretudo tipos que ilustram a sociedade da época, com suas aspirações, seus vícios e seus dramas. Quase sempre, são designados pela ocupação que exercem ou por algum outro traço social (sapateiro, onzeneiro, ama, clérico, frade, bispo, alcoviteira etc.). Ainda com relação aos personagens pode-se dizer que eles são simbólicos, ou seja, simbolizam vários comportamentos humanos.
Os membros da Igreja são alvo constante da crítica vicentina. É importante observar, no entanto, que o espírito religioso presente na formação do autor, jamais critica as instituições, os dogmas ou hierarquias da religião, e sim os indivíduos que as corrompem.
Acreditando na função moralizadora do teatro, fazia teatro para educar o povo, por isso, colocou em cenas fatos e situações que revelam a degradação dos costumes, a imoralidade dos frades, a corrupção no seio da família, a imperícia dos médicos, as práticas de feitiçaria.
A obra teatral de Gil Vicente pode ser didaticamente dividida em dois blocos:
-Autos: peças teatrais de assunto religioso ou profano. Os autos tinham a finalidade de divertir, de moralizar ou de difundir a fé cristã. Os principais autos vicentinos são: Monólogo do Vaqueiro; Auto da Alma; Trilogia das Barcas (compreendendo: Auto da Barca do Inferno; Auto da Barca da Glória, Auto da Barca do purgatório); Auto da Feira, Auto da Índia e Auto da Mofina Mendes.
- Farsas: são peças cômicas de um só ato, com enredo curto e poucas personagens, extraídas do cotidiano. Destacam-se Farsa do Velho da Horta, Farsa de Inês Pereira e Quem tem Farelos? A obra vicentina completa contém aproximadamente 44 peças (17 escritas em português, 11 em castelhano e 16 bilingües).

Exercício:
Trecho da Farsa de Inês Pereira, peça teatral de Gil Vicente.
Inês não queria levantar e fazer os trabalhos domésticos, mas sua mãe queria uma filha prendada para arranjar um casamento.
Inês - Renego deste lavrar
e do primeiro que o usou
ao diabo que o eu dou,
que tão mau é de atuar;
ó Jesus! Que enfadamento,
e que raiva, e que tormento,
que cegueira e que canseira!
Eu hei de buscar maneira
de viver a meu contento.
Coitada, assim hei de estar
encerrada nesta casa
como panela sem asa
que sempre está num lugar?
Isto é vida que se viva?
Hei de estar sempre cativa
desta maldita costura?
Com dois dias de amargura
haverá quem sobreviva?
Hei de ir para os diabos
se continuo a coser.
Oh! como cansa viver sozinha, no mesmo lugar.
Todas folgam, e eu não
Todas vêm e tôdas vão
onde querem, menos eu.
Hui! (e) que pecado é o meu,
ou que dor de coração?
Esta vida é mais que morta,
sou eu coruja ou corujo,
ou sou algum caramujo,
que não sai senão à porta;
sou feliz quando me dão
um dia de permissão que possa estar à janela;
Mais feliz que Madalena
diante da Ressurreição.

Vem a mãe da Igreja, e não a achando lavrando diz:

Logo eu adivinhei
lá na missa onde eu estava.
Como a minha Inês lavrava
a tarefa que eu lhe dei.
Acaba esse travesseiro!
Hui! Nasceu-te algum unheiro?
Ou cuidas que é dia santo?

Inês - Praza a Deus que algum quebranto
me tire do cativeiro.

Mãe - Tu estás mal-humorada?
Choram-te os filhos por pão?

Inês - Possa Deus me dar razão,
que é tempo de estar casada...

Mãe – Olha de lá o mau pesar!
Como queres tu casar
com fama de preguiçosa?

Inês - Mas eu, mãe, sou prestimosa,
e vós sempre a demorar.

Mãe - Ora espera, assim vejamos...

Inês - Quem já visse êsse prazer!

Mãe - Cal'-te, que poderá ser,
que ante a Páscoa vêm os Ramos.
Não te apresses tu, Inês,
maior é o ano que o mês:
quando menos esperares,
virão maridos aos pares
e filhos de três em três.

Inês - Quero-me ora levantar;
folgo mais de falar nisso;
dê-me Deus o paraíso
mil vezes do que lavrar.
Isto não sei que me faz...
[...]
Inês queria casar-se com um homem que fosse inteligente ("avisado") e trovador, não importando que fosse pobre. Acaba escolhendo um charlatão, que a maltratava, o Escudeiro. Um dia, estando o marido na guerra, ela recebe uma carta do irmão:
Lê Inês Pereira a carta, a qual diz:

Muito honrada irmã,

 esforçai o coração e

 tomai por devoção

 de querer o que Deus quer.

 Inês E isto que quer dizer?
(Prossegue):

E não vos maravilheis

 de cousa que o mundo faça,

 que sempre nos embaraça

 com cousas. Sabei que, indo

 vosso marido fugindo

 da batalha para a vila,

 a meia légua de Arzila,

 o matou um mouro pastor.
 ...............................................

INÊS:  Mas que nova tão suave!
 Desatado é o nó!

Se eu por ele ponho dó,              (dó: luto)

 o diabo me arrebente!

 Para mim era valente

 e matou-o um mouro só!

 Guardar de cavaleirão,

 barbudo, repetenado                (repetenado: insolente)

 que em figura de avisado

 é malino e sotrancão                  (sotrancão: dissimulado)

 Agora quero tomar,

 Para boa vida gozar,

 Um muito manso marido;

 Não no quero já sabido,

 Pois tão caro há-de custar.



Aqui vem Lianor Vaz, e finge Inês Pereira estar chorando, e diz Lianor Vaz:
Como estais, Inês Pereira?


INÊS:              Muito triste, Lianor Vaz.
 ...............................................

LIANOR:                     Filha, não tomeis tristura,

 Que a morte todos gasta.

 O que havedes de fazer?
 Casade-vos, minha filha.


INÊS                           Jesus! Jesus! Tão asinha!              (asinha: depressa.)

 Isso me haveis de dizer?

 Quem perdeu um tal marido,

 Tão discreto e tão sabido,
 E tão amigo de minha vida...


LIANOR                     Dai isso por esquecido

 e buscai outra guarida.

 Pero Marques tem que herdou

 fazenda de mil cruzados;
 mas vós quereis avisados...                  (avisados: inteligentes.)
INÊS :            Não, já esse tempo passou"

Sobre quantos mestre são,
 a experiência dá lição.


LIANOR          Pois tendes esse saber,

 Quereis ora quem vos quer,

 dai ao demo a opinião!




Vai Lianor Vaz e fica Inês Pereira só, dizendo:
 
Andar! Pero Marques seja!

 Quero tomar por esposo

 quem se tenha por ditoso

 de cada vez que me veja.

 Por usar de siso mero,

 asno que me leve quero,

 e não cavalo folão;                     (folão: irrequieto, violento)

 antes lebre que leão,

 antes lavrador que Nero.



Interpretação

  1. Pelo trecho que você leu, trace um perfil de Inês, do Escudeiro e de Lianor Vaz.
  2. Inês sempre fez questão de homem inteligente. Após a morte do marido, ainda era essa sua postura? Explique.
  3. Uma das características do Humanismo era a crítica às atitudes humanas. Tente encontrar alguma no trecho acima e copie-a.
  4. No texto falou-se muito em casamento. Quantas vezes se fala em amor?
  5. Dê sua opinião: Será que ainda existem pessoas que vêem no casamento um "investimento" e não um ato de amor?


CLASSICISMO OU RENASCIMENTO

Panorama Histórico        

Portugal é o grande desbravador dos mares e teve o seu apogeu nos séculos XV/XVI. Com a descoberta de novos mundos esse país trouxe para o povo europeu muitos costumes que até então eram desconhecidos. O ponto culminante da expansão é a chegada às Índias de Vasco da Gama (precedido por Bartolomeu Dias que dobrou o Cabo da Boa Esperança, 1488) em 1498, possibilitando o controle das especiarias (cravo, canela, pimenta etc.) e tecidos indianos. Lisboa torna-se a "capital mundial da pimenta"; sua corte e Universidade são, nesse período, centros geradores e difusores de cultura. Portugal constrói um grande império ultramarino, que se estende da América ao Oriente. Em meio a essas descobertas, há a do Brasil, (1500), que inicialmente não desperta grande interesse nos portugueses. Não obstante, o espírito mercantil não deixa de atuar, e dá-se a exploração do pau-brasil com o estabelecimento de feitorias no litoral.
A expansão desmedida do domínio português fundamentava-se em objetivos claros: em primeiro lugar, no mercantilismo (acumulação de riquezas com o comércio de especiarias, fundação de colônias, monopólios de rotas etc.); numa outra instância, na ampliação da religião cristã, que estava sendo abalada pelo pensamento antropocêntrico do Renascimento e pela Reforma Religiosa.
O Classicismo representa uma reação aos valores da Idade Média. O homem passa a ser o principal centro de interesse, e o saber humano emanado da cultura greco-latina é valorizado e ressuscitado. Encantado com os sucessos exploratórios e materiais, o homem volta-se mais para os acontecimentos terrenos, deixando de lado o conceito divinizante anterior. O que importa é descobrir e conquistar o mundo e não buscar o caminho para o céu (entre as descobertas, inclui-se a do Brasil).
Foi um século de muita agitação no campo da cultura, da política e da religião. A Igreja Católica encontra-se em crise em função das idéias protestantes da Reforma.
Características principais:
·         Antropocentrismo: o homem começa a atuar sobre o mundo que o rodeia e descobre suas potencialidades.
·          Racionalismo: (valorização da vida) ocorre uma valorização do uso da razão (sentimentos e emoção controlados pela razão) em detrimento do misticismo religioso vigente na Idade Média.
·         Cultura Greco-Latina: o Classicismo, como veículo literário do Renascimento, busca inspiração na cultura greco-latina, tentando, desta forma, recuperar o homem como centro e medida de todas as coisas (antropocentrismo). Há utilização abundante da mitologia greco-latina.
  • Culto da beleza e da perfeição formal: o autor clássico se baseia nas grandes obras do passado, como a Ilíada e Odisséia, de Homero, Arte Poética, de Horácio, Eneida, de Virgílio; Rimas, de Petrarca; A Divina Comédia, de Dante.
  • Paganismo, com utilização da mitologia greco-latina.
  • Clareza e objetividade.
  • Correção gramatical e uso da ordem inversa.
  • Valorização das histórias épicas (feitos dos heróis contados em verso).
  • Imitação dos clássicos greco-latinos, considerados como modelo de perfeição.
  • Rigor na métrica e na rima.

Luís Vaz de Camões
O principal representante do Classicismo português foi Luís Vaz de Camões, cuja produção literária abrangeu o lírico e o épico (Os lusíadas), além de peças teatrais. Camões ficou órfão ainda pequeno, tendo sido cuidado por um de seus tios, que o teria orientado nos estudos. Nasceu provavelmente em Lisboa, por volta de 1525. Nos anos de 1542-45 frequenta a corte (reinado de D. João III), colocando-se como poeta de talento notável. Camões por ser temperamental, às vezes infeliz no amor, teve uma vida agitada. Em 1527, estando em Ceuta na África para a prestação do serviço militar, como cavaleiro-fidalgo, perde o olho direito na batalha, em luta contra os mouros. Em 1549, regressa a Lisboa, reiniciando sua carreira palaciana. É preso em 1552, por quase um ano, por ferir, numa briga, um oficial do Rei, só conseguindo o perdão ao concordar ir para a Índia. Parte para o Oriente (1553 até 1569) onde vive aventuras, naufrágios, miséria, como tantos outros soldados do Império e da Fé.  Passa 17 anos no exílio. Em Goa, no rio Mecong, vítima de um naufrágio, salva-se a nado, juntamente com os originais de Os Lusíadas, mas perde a sua chinesa Tin-Nam-Mem, a "Dinamene". Em estado de miséria, retorna a Portugal em 1570, já com os originais de sua principal obra Os Lusíadas, publicado em 1572. D. Sebastião concede-lhe uma pensão de 15.000 mil réis anuais: modesta quantia. Morre pobre e abandonado em 10 de julho de 1580.
Poesia lírica
A obra lírica de Camões apresentava o desconcerto do mundo, o amor carnal, os sofrimentos do amor, o infinito absoluto, o ideal da beleza perene e universal, a dualidade matéria e espírito. Aprecie três exemplos nestes Sonetos de Luís Vaz de Camões:
1)

Mudam-se as os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidade,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte o choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.


2)

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma causa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,          
Quão cedo de meus olhos te levou.

3)

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer. 

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder. 

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade. 

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Poesia épica: Os Lusíadas
O poema épico Os Lusíadas constitui-se de 10 cantos em 1102 estrofes (ou estâncias) em oitava-rima, com esquema rimático ab ab ab cc, num total de 8.816 versos decassílabos (medida nova). Quanto à estrutura, a obra está baseada na epopéia clássica de Virgílio: Eneida. Divide-se em cinco partes:
1. Proposição: revela o assunto a ser abordado (estrofes 1 a 3, canto I);
2. Invocação: pede inspiração às ninfas do Tejo, as Tágides (estrofes 4 a 5, canto I);
3. Dedicatória: oferece o poema ao rei D. Sebastião (estrofes 6 a 18, canto I);
4. Narrativa: a parte principal e mais extensa da epopéia, na qual se desenvolvem os episódios da
história lusitana (estrofe 19 do canto I à estrofe 144 do canto X);
5. Epílogo: começa com pungente censura à decadência do país e termina com exortações a D.
Sebastião para continuar a expansão ultramarina (estrofes 145 a 156 do canto X).

 Camões Épico: “Os lusíadas”. Valorização do gênero épico para cantar os feitos de heróis nacionais: A mais importante obra épica do classicismo português é esta epopeia que narra os feitos heróicos dos portugueses (os lusos, daí o nome da obra), que, liderados por Vasco da Gama (herói), lançaram-se ao mar numa época em que ainda se acreditava em monstros marinhos e abismos. Ultrapassando os limites marítimos conhecidos - no caso o cabo das Tormentas ao sul da África - chegariam a Calicute, na Índia.

Canto I - Consílio dos Deuses: Neste Consílio os Deuses iam decidir se ajudavam os portugueses a chegar à Índia ou os impediam. Esta reunião era presidida por Júpiter, tendo estado presentes todos os Deuses convocados. Júpiter decide ajudá-los pois considerou que os portugueses, pelos seus feitos passados eram dignos de tal ajuda. Vênus apoia Júpiter pois vê refletida nos portugueses a força e a coragem do seu filho Eneias. Marte decide também a favor dos portugueses pois sentia-se apaixonado por Vênus. Baco pelo contrário não queria que os portugueses fossem para a Índia com medo de perder a sua fama no Oriente.
Canto II – A armadilha: O Rei de Mombaça, influenciado por Baco, monta uma armadilha para destruir os portugueses que conseguem escapar graças á ajuda de Vênus e das Nereidas.
Canto III -  Neste canto Vasco da Gama conta a história de Portugal ao rei de Melinde. Episodio: Inês de Castro. A morte de Inês de Castro é um dos mais belos episódios líricos presentes na epopeia.Na situação inicial apresenta-nos D. Inês que vivia um modo de vida feliz e despreocupado em que recordava constantemente o seu amado, o infante D. Pedro. Mas o rei (D. Afonso, pai de D. Pedro) para solucionar o problema de seu reino manda matar D. Inês, pois D. Pedro era casado.
Canto IV - Vasco da Gama prossegue a narrativa da História de Portugal. Conta agora a história da Batalha de Aljubarrota. Neste episódio os Portugueses vão para uma guerra contra os castelhanos. Os Portugueses estavam em desvantagem numérica em relação aos Espanhóis. O Rei D. João I foi lutar e sobreviveu à batalha. No final do canto como despedida dos portugueses que vão para a Índia, fazem-se os preparativos numa igreja abençoando as naus para que não naufraguem e rezando e pedindo a Deus que os guiasse. No momento da largada ouve-se a voz de um respeitável velho (Velho do Restelo ) que sobressai de entre todas as que se tinham feito ouvir até então. Ela representa todos aqueles que se opunham à louca aventura da Índia e  criticavam a ambição portuguesa.
Canto: V - Vasco da Gama prossegue a sua narrativa ao Rei de Melinde, contando agora a viagem da armada, de Lisboa a Melinde. É uma narrativa de grande aventura marítima, em que os marinheiros observaram os diversos fenômenos marítimos que ocorrem durante a viagem incluindo a apiração de um monstro. Apareceu um gigante ao dobrar o Cabo das Tormentas. Era o Adamastor e dizia que aquele mar lhe pertencia e que quem se tinha atrevido a entrar nele tinha morrido. Depois, Vasco da Gama põe-se de pé e pergunta ao gigante quem era. Chocado o gigante responde-lhe e conta a história da sua vida. Tinha sido transformado num Cabo por Júpiter por amar Thétis. Um amor que não é correspondido.
Canto VI - Finda a narrativa de Vasco da Gama, a Armada sai de Melinde guiada por um piloto que deverá ensinar-lhe o caminho até Calecut. Baco, vendo que os portugueses estão prestes a chegar à Índia, resolve pedir ajuda a Netuno, que convoca um Consílio dos Deuses Marinhos cuja decisão é apoiar Baco e soltar os ventos para fazer afundar a Armada. Esta tempestade é o último dos perigos que a armada lusitana teve que enfrentar para chegar ao Oriente, e Camões descreve-a de uma forma bastante realista, tanto relativamente à natureza, quando refere a fúria desta (relâmpagos, raios, trovões, ventos), como relativamente ao sentimento de aflição sentido por parte dos marinheiros. Mais uma vez, Vênus ajuda os Portugueses a atingir o seu objetivo, visto que os considera um povo semelhante ao seu amado povo latino.
Canto VII - A armada chega a Calicute. Os primeiros contactos entre portugueses e indianos, foram feitos através de um mensageiro enviado por Vasco da Gama a anunciarem a sua chegada. O mouro Monçaide visita a nau de Vasco da Gama e descreve o Malabar, após o que o Capitão e os outros nobres portugueses desembarcaram e são recebidos pelo Catual e depois pelo Samorim. O Catual visita a Armada e pede a Paulo da Gama que lhe explique o significado das figuras das bandeiras portuguesas. O poeta invoca as Ninfas do Tejo e do Mondego, ao mesmo tempo que critica duramente os opressores e exploradores do povo.
Canto VIII - Baco intervêm de novo aparecendo em sonhos a um sacerdote instigando-o contra os portugueses, Vasco da Gama consegue partir mas sem as fazendas que traziam. Inicia-se a viagem de volta a Portugal. Segue-se o episódio da Ilha dos Amores; Vênus e Cupido preparam uma recepção aos portugueses para compensar-lhes os sofrimentos.
Canto IX -  Após vencerem algumas dificuldades, os Portugueses saem de Calecut, iniciando a viagem de regresso à Pátria. Vênus decide preparar uma recompensa para os marinheiros, fazendo-os chegar à Ilha dos Amores. Para isso, manda o seu filho Cupido desfechar setas sobre as ninfas, que feridas de Amor e pela sua Deusa instruídas, receberão apaixonadas os Portugueses. A Armada avista a Ilha dos Amores, e quando os marinheiros desembarcam para caçar, vêem as Ninfas que se deixam perseguir e depois seduzir. Thetis explica a Vasco da Gama a razão daquele encontro, referindo as futuras glórias que lhe serão dadas a conhecer. Após a explicação da simbologia da Ilha, o poeta termina, tecendo considerações sobre a forma de alcançar a Fama.
Canto X - As Ninfas oferecem um banquete aos portugueses. Após uma invocação do poeta a Calíope, uma ninfa faz profecias sobre as futuras vitórias dos portugueses no Oriente. Tétis conduz Vasco da Gama ao cume de um monte para lhe mostrar a Máquina do Mundo e indicar nela os lugares onde chegará o império português. Os portugueses despedem-se e regressam a Portugal. O poeta termina, lamentando-se pelo seu destino infeliz de poeta incompreendido por aqueles a quem canta e exortando o Rei D. Sebastião a continuar a glória dos Portugueses.

Soneto
Luís Vaz de Camões

Sempre a razão vencida foi de Amor;

 Mas, porque assim o pedia o coração,

 Quis Amor ser vencido da Razão.
 Ora que caso pode haver maior!


Novo modo de morte, e nova dor!

 Estranheza de grande admiração,

 Que perde suas forças a afeição,
 Por que não perca a pena o seu rigor!


Pois nunca houve fraqueza no querer,

 Mas antes muito mais se esforça assim
 Um contrário com outro por vencer.


Mas a Razão, que a luta vence, enfim,

 Não creio que é Razão; mas há de ser
 Inclinação que eu tenho contra mim.
(In: Massaud Moisés, org. Luís de Camões; lírica. SP. Cultrix, 1988.)
Interpretação
  1. Que elementos se encontram personificados no soneto?
  2. Segundo o eu-lírico, quem foi sempre o vencedor: o amor ou a razão? Justifique através do texto.
  3. Pelo que se depreende da terceira estrofe, o amor é um sentimento forte ou fraco? Explique.
  4. A que conclusão o eu-lírico chega na última estrofe?
  5. Analisando o esquema de rimas, o número de sílaba nos versos e a estrofação, explique o que é perfeição formal.


LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL  E LITERATURA JESUÍTICA

A Literatura Informativa abarca tudo o que cronistas e viajantes registraram sobre o Brasil no Século XVI, logo após sua descoberta pelos portugueses. É dessa época a "certidão de nascimento" do Brasil: a Carta, de Pero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra de Cabral, relatando ao rei D. Manuel os fatos que aconteceram e o que observou na nova terra encontrada. A Literatura informativa ou crônicas de viagens contém relatos de viagens, ligados ao ciclo das grandes navegações, exerceram grande fascínio no homem europeu, cuja mente encontrava-se povoada de superstições, lendas e mitos de monstros desconhecidos, o Paraíso Perdido, Eldorado etc. Nesse contexto, faziam sucesso os relatos das viagens, que, além de satisfazer à sede de aventuras, documentavam o processo de conquista e colonização das terras descobertas e os costumes de seus habitantes.

Trechos da carta de Caminha
Texto I
Dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cerca de sete ou oito, segundo os navios pequenos disseram, porque chegaram primeiro. Ali lançamos os batéis e esquifes à água e vieram logo todos os capitães das naves a esta nau do Capitão-mor e ali conversaram. E o Capitão mandou no batel, a terra, Nicolau Coelho para ver aquele rio; e quando começou a ir para lá, acudiram, à praia, homens, aos dois e aos três. Assim, quando o batel chegou à foz do rio estavam ali dezoito ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho fez sinal para que deixassem os arcos e eles os pousaram. Mas não pôde ter deles fala nem entendimento que aproveitasse porque o mar quebrava na costa.

Texto II
Os índios visitam Cabral
O Capitão, quando eles (os índios) vieram, estava sentado em uma cadeira, bem-vestido, com um colar de ouro mui grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa, por estrado. Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correa, e nós outros que aqui na nau com ele vamos, sentados no chão, pela alcatifa. Acenderam-se tochas. Entraram. Mas não fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata, e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela; não lhe queriam pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados. Deram-lhes ali de comer; pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e se alguma coisa provavam, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada. Não beberam. Mal a tomavam na boca, que lavaram, e logo lançaram fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós assim por assim o desejarmos. Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não o queríamos entender, porque não lho havíamos de dar. Vocabulário: alcatifa - tapete / fartéis - tipo de bolo / albarrada - vaso de metal  / folgou - alegrou-se  / In Jaime Cortesão, org. A carta de Pero Vaz de Caminha. p. 205-207

Texto III
De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.                                                                                                                       (Em Carlos Vogt e José A. G. de Lemos, Cronistas e viajantes. Literatura comentada. São Paulo, Abril  Educação, 1982, p. 12-23)

Texto IV
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes bem-feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou mostrar suas vergonhas, e nisso têm tanta inocência como têm em mostrar o rosto. [...] Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas espáduas, e suas vergonhas iam tão altas e tão saradinhas e tão limpas de cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.

Texto V
Também andavam, entre eles, quatro ou cinco mulheres moças, nuas como eles, que não pareciam mal. Entre elas andava uma com uma coxa, do joelho até o quadril, e a nádega, toda tinta daquela tintura preta; e o resto, tudo da sua própria cor. Outra trazia ambos os joelhos, com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas e com tanta inocência descobertas, que nisso não havia nenhuma vergonha. Também andava aí outra mulher moça com um menino ou menina ao colo, atado com um pano (não sei de quê) aos peitos, de modo que apenas as perninhas lhe apareciam. Mas as pernas da mãe e o resto não traziam pano algum.  [...] Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença.

Texto VI

E que, portanto, não cuidassem de aqui tomar ninguém por força nem de fazer escândalo, para de todo mais os amansar e apacificar, senão somente deixar aqui os dois degredados, quando daqui partíssemos. E assim, por melhor a todos parecer, ficou determinado. [...] E portanto, se os degredados, que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se hão de fazer cristãos e crer em nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque, certo, esta gente é boa e de boa simplicidade. E imprimir-se-á ligeiramente neles qualquer cunho, que lhes quiserem dar. E pois Nosso Senhor, que lhes deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens, por aqui nos trouxe, creio que não foi sem causa. [...]       Portanto Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da sua salvação. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim.


            Exercício:
1)    Fazer uma intertextualidade com a carta de Caminha. Primeiro escolha três assuntos diferentes, copie trechos da Carta do Descobrimento, a partir destes trechos, reescreva-os entre aspas numa carta endereçada para o Caminha e compare o Brasil de hoje com o Brasil de 1500.


2)    A partir do texto:

Como os selvagens se portaram comigo no primeiro dia em sua aldeia
Hans Staden



    No dia seguinte – às ave-maria a julgar pelo sol – avistamos suas habitações. Tínhamos levado três dias de caminho percorrido de Bertioga, onde eu tinha sido aprisionado, trinta milhas.
    Quando nos aproximamos, vimos uma pequena aldeia de sete choças. Chamavam-na Ubatuba. Dirigimo-nos para uma praia, aberta ao mar. Bem perto trabalhavam as mulheres numa cultura de plantas de raízes, que eles chamavam mandioca. Estavam aí muitas delas, que arrancavam raízes, e tive que lhes gritar em sua língua: "Aju ne xé peê remiurama", isto é: "Estou chegando eu, vossa comida".
    Fomos à terra. Acudiram então todos, moços e velhos das cabanas, que ficavam num outeiro, e queriam ver-me. Os homens se retiraram com os arcos e flechas para suas moradias e deixaram-me com as mulheres, que me rodearam. Algumas foram à minha frente, outras atrás, dançando e cantando uma canção quem segundo seu costume, entoavam aos prisioneiros que tencionavam devorar. Assim trouxeram-me elas até a caiçara, fortificação de estacas longas e grossas que rodeia suas choupanas como a cerca dum jardim. Utilizam-na como anteparo contra o inimigo. No interior da caiçara arrojaram-se as mulheres todas sobre mim, dando-me socos, arrepelando-me a barba, e diziam em sua linguagem: "Xé anama poepika aé!" "Com esta pancada vingo-me pelo homem que os teus amigos nos mataram".
    Depois introduziram-me elas na choça, onde tive que deitar-me numa rede, e de novo vieram, bateram-me, escarapelaram-me os cabelos e significaram-me, ameaçadoras, como iriam devorar-me.
    Os homens estavam durante este tempo reunidos em uma outra choça. Lá bebiam cauim e cantavam em honra de seus ídolos, chamados Maracá, que são matracas feitas de cabaças, os quais talvez lhes houvessem profetizado que iriam fazer-me prisioneiro.
    O canto eu ouvia, mas durante meia hora não houve nenhum homem perto de mim, apenas mulheres e crianças.
    (In: Carlos Vogt e José Augusto Guimarães de Lemos. Orgs.. Cronistas e viajantes. SP, Abril Educação. 1982. Literatura comentada).

Faça a interpretação:
  1. Em se tratando da época do Descobrimento do Brasil, ao lermos "...avistamos suas habitações", a que o cronista se refere?
  2. No texto há referência a duas praias  bastante freqüentadas atualmente. Quais são?
  3. Havia, nos índios um desejo de vingança contra os brancos. Por quê?
  4. Podemos dizer que o texto em questão é literário? Por quê?
  5. A que se deve a denominação "de viagens ou informativa" dada a essa literatura?


Literatura dos Jesuítas

A Literatura Jesuítica, representada sobretudo por José de Anchieta, envolve textos religiosos (poesia, teatro) voltados à catequização dos índios. Literatura jesuítica ou de catequese, além das cartas que enviavam a seus superiores, para informá-los sobre os trabalhos com a catequese, os padres jesuítas escreviam ainda poemas e pequenas peças de teatro. Dentre eles, ressalta a importância da obra do padre José de Anchieta, que escreveu: a primeira gramática e dicionário da língua falada pelos índios (tupi); poesia lírica e filosófica, em que reflete sua visão teocêntrica do mundo e a dedicação ao culto a Virgem Maria; poesia didática e/ou de circunstância, objetivando oferecer exemplos moralizantes aos índios e colonos; autos medievais, de caráter religioso e catequético, aproveitando o gosto do indígena pela dança, pelo canto e pela representação, para convertê-lo ao cristianismo. Anchieta mistura três línguas - o tupi, o português e o espanhol, além de citações em latim - na realização desse teatro, bastante incipiente. Sua peça mais conhecida é o Auto de São Lourenço, em que conta o martírio do santo, que luta contra demônios (que ganhavam nomes tupis, como), mas preferiu morrer queimado a renunciar à sua fé.

Pe. José de Anchieta (1534-1597)
José de Anchieta, o mais importante dos jesuítas que estiveram no Brasil, nasceu na ilha de Tenerife, uma das ilhas Canárias, em 19 de março de 1534. Após estudar em Coimbra, Portugal, ingressa na Companhia de Jesus em 1551. Dois anos depois, ainda noviço, vem para o Brasil na comitiva de Duarte da Costa, segundo governador geral, com o intuito de catequizar os índios. Em 25 de janeiro de 1554, funda, com Manuel da Nóbrega, um colégio em Piratininga. Aos poucos se forma um povoado ao redor do colégio, batizado por José de Anchieta como São Paulo. Algum tempo depois, é enviado a São Vicente, onde aprendeu a língua tupi. Em 1563, foi refém, durante cinco meses, dos índios tamoios. Nesse período escreve o poema em latim "De Beata Virgine Dei Matre Maria" e vários autos religiosos.  José de Anchieta escreveu um número muito grande de autos, cartas e poesias de cunho religioso. A poesia escrita por José Anchieta está impregnada de conceitos morais, espirituais e pedagógicos. Por isso, sua linguagem é simples, apesar de ser escrita em redondilhas menores (cinco sílabas poéticas). Anchieta foi o introdutor do teatro no Brasil, seus autos têm um valor literário muito menor do que sua poesia. De caráter extritamente pedagógico, esses autos foram escritos em português e em tupi, dependendo do grau de compreensão do público a ser catequizado. Além disso, esses autos, ainda presos modelo medieval deixado por Gil Vicente, misturam a moral religiosa católica aos costumes dos índios e se materializam nas figuras de anjos ou demônios, pólos do Bem e do Mal.




BARROCO

    O Barroco é literatura do conflito e dos extremos, isto em função das diferentes visões de mundo advindas da Idade Média (teocentrismo) e da Idade Moderna (antropocentrismo). A igreja Católica, preocupada com as idéias da Reforma Protestante, inicia a Contra-Reforma. A própria corrupção da Igreja Católica, com a ambição desmedida de seus representantes, e os grandes avanços verificados no conhecimento humano levaram o homem a valorizar-se mais e concluir que tinha autonomia, questionando o discurso da Igreja: que Deus era aquele que determinava a existência de escravos e senhores, ricos e pobres, explorados e exploradores? Que Deus era aquele que cobrava impostos e absolvia em troco de um pedaço de terra? Que Deus era aquele que condenava o prazer e só sabia castigar?
    Se, por um lado, essa mudança de atitude levou a progressos, pois o homem percebeu que deveria agir, lutar por si mesmo, e não ficar esperando as coisas "caírem do céu", por outro, levou a uma incerteza com relação à realidade, pois ficou uma grande dúvida no ar: Deve-se, afinal, viver em função do terreno ou do divino? E se eu viver em função do terreno e a Igreja tiver razão? Vou para o inferno. E se eu viver em função do divino, privando-me para isso de alguns prazeres, e realmente não existir o pecado?
O homem seiscentista vive um estado de tensão e desequilíbrio que acaba gerando uma produção literária eminentemente rebuscada. É o reflexo do dilema, do conflito entre o terreno e o celestial, o homem e Deus, o pecado e a salvação, o material e o espiritual, numa busca constante de aproximação de elementos díspares, através de figuras de linguagem, tais como:    Metáfora;    Antítese;    Hipérbole;    Prosopopeia;    Gradação. Além disso, o jogo de palavras (= cultismo) e o jogo de idéias (= conceptismo), aparecem constantemente nos textos do Barroco.
O dualismo barroco acaba levando o homem à ideia de que a vida é passageira, perecível, efêmera. A passagem do tempo torna-se uma característica desse período. A transitoriedade ou fugacidade da vida é constantemente explorada nas obras barrocas.    Toda essa situação levará a atitudes contraditórias e questionadoras, que se revelarão na arte da época.

BARROCO NO BRASIL

A publicação de “Prosopopéia” de Bento Teixeira, marca o início oficial do Barroco no Brasil. Os jesuítas são os responsáveis históricos pela formação do Barroco. Antônio Francisco, o Aleijadinho, visto como maior gênio da arte barroca com suas esculturas.
Características principais:
  • Busca de redenção para os pecados
  • Pessimismo perante a vida
  • Tendências opostas e conflitivas: o teocentrismo medieval e o antropocentrismo renascentista, faz o homem barroco tentar encontrar um ponto de união entre forças opostas antagônicas: razão x fé, sensualismo x misticismo, realismo x idealismo, amor x ódio, céu x inferno, bem x mal... (Dualismo)
  • Principais temas barrocos: morte, sobrenatural, fugacidade da vida e ilusão, castigo, heroísmo, erotismo, cenas trágicas, apelo à religião, ao céu – temer a Deus, arrependimento, dedução do mundo
  • Sentimento de insegurança.
  • Presença de antíteses (figura de linguagem que joga com idéias contrárias: vida/morte; luz/trevas);
  • Presença de paradoxos (figura de linguagem que apresenta idéias aparentemente absurdas).
  • Uso de motivos religiosos.
  • Pessimismo e preocupação com a morte.
  • Jogos de palavras, trocadilhos, sobretudo na poesia (cultismo).
  • Jogo de ideias na busca da essência das coisas, através de sua análise (conceptismo), predominante na prosa.
  • Linguagem rebuscada; Ordem inversa.

Principais representantes do Barroco no Brasil:

Padre Antônio Vieira (1608-1697)
Foi um dos maiores escritores da língua portuguesa e um dos maiores oradores da história européia. Homem do púlpito e da ação política. Entrou para o noviciado da Companhia de Jesus, em 1623 e estreou no púlpito dez anos mais tarde, na Bahia, com o sermão Maria, Rosa Mística. Foi pregador régio, conselheiro de D. João IV, embaixador na França, Holanda e Roma. Perseguido pelo Santo Ofício, ainda assim, manteve suas convicções; dentre as quais, a defesa do índio, massacrado pelos colonos, o profetismo sebastianista e defesa do direito de os judeus viverem livremente. Ao contrário de Gregório de Matos, que colhia a substância de seus temas na vida baiana, padre Vieira falava aos fiéis da Bahia como se estivesse falando com o mundo, mesmo que o assunto fosse de interesse local. Há nele uma sabedoria concreta, capaz de associar um fato trivial a uma interpretação grandiosa, ecumênica, humanística, sem aquela falsa justaposição dos oradores e pensadores menores do barroco, que faziam analogia e comparação sobre banalidades. Entre os mais famosos sermões de Vieira, pode-se destacar: O Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda, em que o autor se apresenta diante de Deus, contrapondo a excelência da religião católica sobre as religiões modernas de fundo protestante. Seu ponto alto está na ironia com que vai discorrendo e, ao mesmo tempo, descrevendo a posição de Deus como árbitro da futura disputa entre portugueses e holandeses; o Sermão de Santo Antônio aos Peixes, em que satiriza os vícios dos colonos através de alegorias e comparações com os hábitos dos peixes; o Sermão da Sexagésima, em que ridiculariza e censura os exageros da escola gongórica e dá uma aula na arte de escrever e pregar. Mais características:
·         Denunciador dos sofrimentos físicos e morais dos escravos e negros – compara os sofrimentos dos escravos aos de Cristo.
·         Faz defesa ao índio escravizado pelos colonos do Maranhão, pregando que em lugar de se utilizar do suor alheio, os senhores deveriam procurar o sustento com os próprios braços, com suas mulheres e filhos.
·         Vieira foi um mestre da argumentação, trabalhou com os jesuítas a ideia de convencer o público por meio de um discurso, com o largo uso de figuras de linguagem para eletrizar o ouvinte e despertar-lhe a consciência. A repetição, com finalidade enfática, bem como o processo de pergunta-resposta foram usados com eficácia.
Sermão de Santo Antônio aos Peixes, de Pe. Antônio Vieira
O Sermão de Santo Antônio aos Peixes foi pregado em 13 de Junho de 1654 em São Luís do Maranhão, em 1654, três dias antes de embarcar escondido para Portugal no auge da luta dos jesuítas contra a escravização dos índios pelos colonizadores, procurando o remédio da salvação dos Índios. O sermão revela toda a ironia, riqueza nas sugestões alegóricas e agudo senso de observação sobre os vícios e vaidades do homem, comparando-o, por meio de alegorias, aos peixes.
Critica a prepotência dos grandes, que, como peixes, vivem do sacrifício de muitos pequenos, os quais "engolem" e "devoram". O alvo são os colonos do Maranhão, que no Brasil são grandes, mas em Portugal "acham outros maiores que os comam, também a eles".
Exercício: Leia o trecho do Sermão de Santo Antônio aos Peixes e responda:
“Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; [...] A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande [...] Os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros. Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer!”
1)    A prosa de Vieira é um exemplo de Cultismo ou Conceptismo? Explique.
2)    Explique qual a relação dos peixes com os homens, afinal utilizou-se desta comparação com que propósito?
3)    Vieira criticou quais atitudes humanas?

POETA: GREGÓRIO DE MATOS – “O BOCA DO INFERNO”

Escreveu poemas lírico-amorosos, religiosos e satíricos. Sua obra tem especial importância por ter incorporado à literatura feita no Brasil o léxico local. Poeta consciente dos problemas sociais do país, Gregório de Matos não poupou com sua sátira o clero, os políticos, os donos de terras, as autoridades locais, a sociedade baiana foi severamente criticada, por isso recebeu o apelido de “boca do Inferno”.

Escreveu poemas religiosos criados a partir do binômio culpa-arrependimento. O senso do pecado é o que mais ressalta. Um terror permanente em face da morte e da fragilidade e limitações do homem. Sua poesia sacra segue uma trajetória autobiográfica: inicialmente zombou da igreja católica, estando próximo da morte, arrependeu-se e retornou a doutrina cristã.

Poemas amorosos (poesia lírico-amorosa) é fortemente marcada pela característica barroca do contraste, da identificação entre opostos. A noção de pecado é muito forte; a mulher é, por um lado, um anjo de candura e, por outro, demoníaca. Ele insiste nas imagens impostas pela ideologia católica, confundindo o amor e o encanto com sedução pecaminosa.

Leia e responda:

Sabei, Custódia, que Amor
Inda que tirano, é rei,
Faz leis, e não guarda lei,
Qual soberano Senhor.
[...]
Que vossa boca tão bela
Tanto a amar-vos me provoca,
Que por lembrar-me da boca
Me esqueço da parentela.
[...]
Mas eu amo sem confiança
Nos prêmios do pretendente,
Amo-vos tão puramente,
Que nem peco na esperança.
[...]
Amar, e querer, Custódia;
Soam quase o mesmo fim,
Mas diferem quanto a mim,
E quanto a minha paródia.

O querer é desejar,
A palavra o está expressando:
Quem diz quer, está mostrando
A cobiça de alcançar.
[...]
Amar o belo é ação
Que toca ao conhecimento
[...]
Amor ama, amor padece
Sem prêmio algum pretender,
[...]
Custódia, se eu considero,
Que o querer é desejar,
E o amor é perfeito amar,
Eu vos amo, e não vos quero.

Porém já vou acabando,
Por nada ficar de fora
Digo, que quem vos adora,
Vos pode estar desejando.

1)    Aqui ocorre o jogo de palavras, uma característica do Barroco que se chama?
2)    Existe um impedimento ao amor dos dois. Qual é?
3)    Afinal, o eu-lírico quer ou não quer Custódia? Justifique sua resposta.


Leia e responda:


Ao divino sacramento, de Gregório de Matos


Tremendo chego, meu Deus,

 ante vossa divindade,

 que a fé é muito animosa
 mas a culpa mui cobarde.

À vossa mesa divina

 como poderei chegar-me,

 se é triaga da virtude

 e veneno da maldade?


Como comerei de um pão,

 que me dais, por que me salve,

 um pão que a todos dá vida,
 e a mim temo que me mate?


Como não hei de ter medo

 de um pão, que é tão formidável,

 vendo que estais todo em tudo,
 e estais todo em qualquer parte?


Quanto a que o sangue vos beba,

 isso não, e perdoai-me:

 como quem tanto vos ama,
 há de beber-vos o sangue?

Beber o sangue do amigo

 é sinal de inimizade;

 pois como quereis que eu o beba,
 para confirmarmos pazes?


Senhor, eu não vos entendo:

 vossos preceitos são graves,

 vossos juízos são fundos,
 vossa idéia inescrutável.

Eu confuso neste caso,

 entre tais perplexidades

 de salvar-me ou de perder-me,
 ..................................................
(Apud José Miguel Wisnik, org. Poemas escolhidos; Gregório de Matos. São Paulo, Cultrix, 1975.)

Interpretação
  1. Reveja as características do Barroco e indique quais se aplicam ao texto.
  2. O que você entende do que foi colocado na quarta e quinta estrofes?
  3. Relendo as duas últimas estrofes, você diria que o poeta está seguro ou inseguro quanto ao rumo a seguir?
  4. Qual é a única certeza que o poeta tem?

ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO

Arcádia era, na mitologia, um monte grego onde se reuniam pastores. O Arcadismo começa, em Portugal, com a fundação da Arcádia Lusitana, no Brasil, com a publicação em 1768 de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa. A doutrina do iluminismo (ciência, progresso e liberdade) guia o pensamento no século XVIII, o Século das Luzes: exaltação da razão, único meio de se chegar à verdade; da liberdade individual, econômica e da igualdade perante a lei. Com a superioridade da razão, Deus aparece representando a suprema Inteligência, dando-se a conhecer através da natureza, cujas leis regeriam tudo o que existe (teoria mecanicista), sem necessidade de orações e outras cerimônias religiosas. Contrariando os princípios da Idade Média, prega-se a igualdade entre os homens, cada um com liberdade de lutar para obter o que deseja. Na verdade, é uma reação aos abusos do clero e da nobreza.

Características principais:
·       Preocupação com a forma.
·       Volta ao estilo clássico (de onde o nome "Neoclassicismo").
·       Presença da mitologia greco-latina.
·       Bucolismo: busca da paz e da tranquilidade do campo, a natureza é o local ideal para viver feliz.
·       Temas pastoris e campestres (artista = pastor).
·       A arte como imitação da natureza.
·       Racionalismo: uso da razão
·       Fuga do ambiente urbano (fugere urbem), busca da natureza (locus amenus), culto ao homem simples (aurea mediocritas), aproveitar o dia (carpe diem).

Principais representantes do Arcadismo: Manuel Maria du Bocage (Portugal); Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa (participantes da Conjuração Mineira), Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga.

Poesia do Arcadismo
 Cláudio Manuel da Costa:

Marcado por um forte sentimento da terra brasileira, especialmente pela paisagem rochosa de Minas Gerais. Também foi preso, juntamente com os demais Inconfidentes, porém durante o julgamento, segundo a versão do rei, suicidou-se na cadeia, versão contestada por muitos estudiosos. Sua poesia revela inquietações existenciais, conflitos amorosos, dilaceramento interior e um acentuado lirismo. Além de “Obras Poéticas”, escreveu o poema épico “Vila Rica,” no qual narra a expansão bandeirante, a exploração das minas de metais preciosos e a fundação de Ouro Preto. Descreve a luta pela terra e os amores de uma índia, Gupeva, por um português; este é o primeiro livro nacional que apresenta uma visão lírica do índio, integrando-o esteticamente no texto. O pseudônimo pastoril de Cláudio Manuel da Costa era Glauceste Satúrnio e Nise o de sua musa inspiradora.

Tomás Antônio Gonzaga:

Gonzaga foi Ouvidor em Vila Rica, onde se apaixonou por Maria Dorotéia (Marília, pseudônimo de sua musa), a quem escreveu suas Liras (composições poéticas) usando o pseudônimo de Dirceu. Participou da Inconfidência Mineira, foi preso e condenado ao degredo na África, onde se casa com a filha de um rico mercador de escravos. Nunca mais regressou ao Brasil. Sua principal obra Marília de Dirceu (lírica)divide-se em duas partes: a primeira contém confidências amorosas, descrição da amada, planos e sonhos com o casamento; na segunda parte estão os poemas escritos no cárcere, revelando o sofrimento físico e moral do poeta.
Cartas Chilenas” (satírica) é uma sátira ao governador da Capitania de Minas, Luís da Cunha Menezes. São doze cartas que Critilo escreveu a Doroteu, ridicularizando o governador do Chile, Fanfarrão Minésio, como um tirano sem escrúpulos, porém, na realidade, utilizando-se de pseudônimo de Critilo, Gonzaga faz sua crítica para o governador de Minas Gerais.

Lira XIX, de Tomás Antônio Gonzaga


Enquanto pasta alegre o manso gado,

 Minha bela Marília, nos sentemos
 À Sombra deste cedro levantado,

Um pouco meditemos

 Na regular beleza,

 Que em tudo quanto vive, nos descobre
 A sábia natureza.


Atende, como aquela vaca preta

 O novilhinho seu dos mais separa

 E o lambe, enquanto chupa a lisa teta.

 Atende mais, ó cara,

 Como a ruiva cadela

 Suporta que lhe morda o filho o corpo,
 E salte em cima dela.


Repara, como cheia de ternura

 Entre as asas ao filho essa ave aquenta,

 Como aquela esgravata a terra dura,

 E os seus assim sustenta;

 Como se encoleriza,

 E salta sem receio a todo o vulto,
 Que junto deles pisa.
.............................................................
(Marília de Dirceu. Rio de Janeiro, Tecnoprint.)

Interpretação.
  1. Que características do Arcadismo você encontra no texto?
  2. O texto apresenta preocupação com a forma? Justifique.
  3. Que visão o poeta tem da natureza?
  4. Explique o significado de "regular beleza", na primeira estrofe.

Poesia épica no Arcadismo

Os escritores utilizam os temas de nossa história colonial, a descrição da natureza tropical e a introdução do índio como herói nacional. O nativismo subjacente a esses novos temas, que apresenta o índio como personagem, já antecipa  a valorização do “bom selvagem” que seria um dos pontos altos do próximo período literário, o Romantismo.

Basílio da Gama
Escreveu o poema épico “O Uraguai” que trata de um conflito entre os índios guaranis catequizados por jesuítas espanhóis contra um exército luso-espanhol que atacou e venceu os índios dos Sete Povos das Missões. Os trechos mais belos referem-se aos índios, como a narração da morte de Cacambo, assassinado pelo Pe. Balda, e o desespero e suicídio de Lindoia.

Lagos de sangue

Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue tépidos e impuros
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
O rouco som da irada artilharia.

Responda:
1)    Estes versos pertencem a um trecho do poema épico “O Uraguai”, então imagine e indique de quem são os cadáveres que boiam nos “lagos de sangue”?
2)    A palavra “Fumam”, no primeiro verso, o que significa no contexto do poema?
3)    O que é enfatizado por essa hipérbole apresentada no título?


Santa Rita Durão
Escreveu o poema épico “Caramuru”, cujo tema fala da colonização da Bahia no século XVI. Ele relata a lenda em que Diogo Álvares Correia, que após um naufrágio é cercado pelos índios tupinambás que o ameaçam, então elo os amedronta com um tiro de Arcabuz. Após o ocorrido, os índios o chamam de Caramuru (filho do trovão) e o tratam como um deus. Com o cacique, inclusive, dando a mão de sua filha Paraguaçu como esposa. Passa um tempo na aldeia até ser resgatado por um navio francês, Diogo leva Paraguaçu, que seria batizada para, enfim, casar-se com ele.


FONTES:

CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José Aderaldo. José Lins do Rego. In: Presença da literatura brasileira. III: modernismo. São Paulo: Difel, 1975. p. 246-247.
CANDIDO, Antonio. Um romancista da decadência. In: Brigada ligeira. São Paulo: Martins, 1945. p. 63-70.
CARPEAUX, Otto Maria. José Lins do Rego. In: Correio da manhã, Rio de Janeiro, 13 set. 1957. p. 3.
CARPEAUX, Otto Maria. José Lins do Rego. Em sua: Pequena bibliografia crítica da literatura brasileira. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1951. p.256-258. 3. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Letras e Artes, 1964. p.312-314.
CAVALCANTI, Valdemar. José Lins, cronista. In: Jornal literário. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1960. p. 237-247. Reproduzido em REGO, José Lins do. Água-Mãe. Rio de Janeiro: J. Olympio, em convênio com o Instituto Nacional do Livro, 1980. p. VII. (Romances reunidos e ilustrados, 9)
FREYRE, Gilberto. José Lins do Rego e eu: qual dos dois influiu sobre o outro? In: Alhos & bugalhos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978. p. 33-55.
LINS, Álvaro. Um novo romance dos engenhos. In: Os mortos de sobrecasaca. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. p. 131-136.
REGO, José Lins do. José Lins do Rego. Sel. notas, est. biogr. hist. e crít. Benjamin Abdala Jr. São Paulo: Abril Educação, 1982. (Literatura comentada)
Fundação Joaquim Nabuco
Academia Brasileira de Letras
Enciclopédia Barsa
Enciclopédia Digital

Saulo A. Ferreira. Gama, DF, fevereiro de 2001.[ http://pt.scribd.com/doc/63591806/APOSTILA-1#scribd]

Sites:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura
http://www.regina.celia.nom.br/lit.1generos.literarios.htm
http ://html_10emtudo/Literatura/html_literatura_total.htm

  Apostila de apoio ao estudo, montada de forma solidária a partir de textos de autorias diversas. 
  SEM FINS LUCRATIVOS, POR ISSO NÃO PODE SER COMERCIALIZADA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário