quinta-feira, 26 de março de 2015

Castro Alves: (1847-1871)

Terceira Geração: Condoreira:

Caracterizada pela poesia social e libertária. Essa geração sofreu a influência de Victor Hugo e de sua poesia político-social. O termo condoreirismo é conseguência do símbolo adotado pelos românticos: a águia Condor.

Castro Alves: (1847-1871)

Diferente dos demais poetas românticos, interessava-se não apenas pelo “eu”, mas também pela realidade que o rodeava. No período em que viveu, ainda existia a escravidão no Brasil. O jovem baiano foi capaz de compreender as dificuldades dos negros escravizados.   Manifestou toda sua sensibilidade escrevendo versos de protesto contra a situação a qual os negros eram submetidos. Este seu estilo contestador o tornou conhecido como o “Poeta dos Escravos”. 
Aos 21 anos de idade, mostrou toda sua coragem ao recitar, durante uma comemoração cívica, o “Navio Negreiro”. A contragosto, os fazendeiros ouviram-no clamar versos que denunciavam os maus tratos aos quais os negros eram submetidos. 
Além de poesia de caráter social, este grande escritor também escreveu versos líricos-amorosos.

Poesia Social
IV – NAVIO NEGREIRO


Parte 1

Era um sonho dantesco... o tombadilho  
Que das luzernas avermelha o brilho. 
Em sangue a se banhar. 
Tinir de ferros... estalar de açoite...  
Legiões de homens negros como a noite, 
Horrendos a dançar... 

Negras mulheres, suspendendo às tetas  
Magras crianças, cujas bocas pretas  
Rega o sangue das mães:  
Outras moças, mas nuas e espantadas,  
No turbilhão de espectros arrastadas, 
Em ânsia e mágoa vãs! 

E ri-se a orquestra irônica, estridente... 
E da ronda fantástica a serpente  
Faz doudas espirais ... 
Se o velho arqueja, se no chão resvala,  
Ouvem-se gritos... o chicote estala. 
E voam mais e mais... 

Presa nos elos de uma só cadeia,  
A multidão faminta cambaleia, 
E chora e dança ali! 

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Parte 2

Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizei-me vós, Senhor Deus! 
Se é loucura... se é verdade 
Tanto horror perante os céus?! 
Ó mar, por que não apagas 
Co'a esponja de tuas vagas 
De teu manto este borrão?... 
Astros! noites! tempestades! 
Rolai das imensidades! 
Varrei os mares, tufão! 

Quem são estes desgraçados 
Que não encontram em vós 
Mais que o rir calmo da turba 
Que excita a fúria do algoz? 
Quem são?   Se a estrela se cala, 
Se a vaga à pressa resvala 
Como um cúmplice fugaz, 
Perante a noite confusa... 
Dize-o tu, severa Musa, 
Musa libérrima, audaz!... 

São os filhos do deserto, 
Onde a terra esposa a luz. 
Onde vive em campo aberto 
A tribo dos homens nus... 
São os guerreiros ousados 
Que com os tigres mosqueados 
Combatem na solidão. 
Ontem simples, fortes, bravos. 
Hoje míseros escravos, 
Sem luz, sem ar, sem razão. . . 

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Parte 3

Ontem a Serra Leoa, 
A guerra, a caça ao leão, 
O sono dormido à toa 
Sob as tendas d'amplidão! 
Hoje... o porão negro, fundo, 
Infecto, apertado, imundo, 
Tendo a peste por jaguar... 

Ontem plena liberdade, 
A vontade por poder... 
Hoje... cúm'lo de maldade, 
Nem são livres p'ra morrer. . 
Prende-os a mesma corrente  
Nas roscas da escravidão

RESPONDA NO CADERNO (não precisa copiar as perguntas)

1.    A parte 2 começa com uma invocação ( um chamado). Quem o poeta invoca (chama)?

 2.    Ao fazer esta invocação, o poeta na verdade desejava o quê? Quem seriam na sociedade de seu tempo os responsáveis pelo sofrimento denunciado?

3. Quem são os desgraçados que o poeta cita no texto? Comprove com verso do texto.
  
4.Esse poema de Castro Alves é um exemplo de Literatura engajada, ou seja, literatura a serviço de uma causa. O poeta tenta sensibilizar as pessoas para o drama que representava a escravidão.
a)O que você acha: a arte (música, cinema, teatro, etc.) é um meio eficaz para denunciar problemas sociais? Justifique.


b) Cite uma ocorrência de arte que denuncia um problema social. 


Sobre o poema O navio negreiro, é correto afirmar:

I. Junto de Vozes d'África, o poema épico-dramático O navio negreiro integra a obra Os escravos e vem a ser uma das principais realizações poéticas de Castro Alves;
II. O poema O navio negreiro apresenta uma finalidade estética voltada para a exacerbação romântica, cuja linguagem é pouco expressiva e voltada para a objetividade.
III. Apresenta uma finalidade política e social evidente: a erradicação da escravidão no Brasil.
IV. Faz uma recriação poética das cenas dramáticas do transporte de escravos no porão dos navios negreiros.
V. Os versos apresentam referências a costumes e crenças das tribos indígenas brasileiras, expressando um nacionalismo guerreiro e primitivo.
a) I, II e III estão corretas.
b) II e V estão corretas.
c) I, III e IV estão corretas.
d) Todas as alternativas estão corretas.
e) I, III e V estão corretas.
Poesia Lírico-amorosa
Cantou o amor, a mulher, a morte, o sonho;cantou a República, o abolicionismo, a igualdade, os oprimidos. Na poesia lírico-amorosa evoluiu do campo da idealização para a realidade. Agora temos uma mulher de carne e osso, amor realizável, sensual, amante. Muitos poemas inspirados em seu romance com a atriz portuguesa Eugênia Câmara.

BOA-NOITE

Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio...
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!... E tu dizes – Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não me digas descobrindo o peito,
– Mar de amor onde vagam meus desejos.
[...]
A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!

RESPONDA

1)      Qual o desejo inicial do eu-lírico e o da Maria?



2)      Como que é retratado o amor e a mulher neste poema?


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